segunda-feira, 2 de julho de 2007

Formação Profissional na Sociedade Tecnológica

Gilberto Lacerda Santos

O autor diz que a influência da inserção das novas tecnologias, na sociedade, vem sendo vista como o estatuto de novo paradigma fundamental, futuro regulador das interações sociais, culturais, éticas e profissionais numa nova sociedade em formação. Em outros termos, o avanço tecnológico e suas implicações sobre o modo de funcionamento do mercado de trabalho estariam conduzindo a sociedade a uma intensificação da exploração do trabalhador.
No âmbito do processo de formação profissional, a introdução de novas tecnologias se manifesta segundo duas vertentes distintas, que indicam e delimitam o que nós consideramos como sendo a espinha dorsal da discussão em torno da inter-relação entre formação, cidadania e sociedade tecnológica: o futuro do trabalho e a identificação do perfil do trabalhador em função da reestruturação do sistema produtivo.
Os mecanismos de formação para o trabalho refletem este momento de crise paradigmática e acentuam-se as discussões em torno da vocação da escola profissionalizante, de seu currículo e da própria finalidade dos programas de formação profissional. A idéia da emergência de um novo modo de produção do conhecimento não é recente. Nas últimas décadas, inúmeros autores têm apontado para os indícios do surgimento de uma dinâmica inovadora com relação ao desenvolvimento científico e tecnológico, alterando significativamente o sistema de produção e, consequentemente, demandando revisões constantes nos procedimentos de formação profissional.
É perfeitamente visível que conceitos como formação politécnica, formação plural, formação omnilateral, são amplamente discutidos na medida em que a sociedade tecnológica emergente acena com um intenso processo de transformação do trabalho qualificado. Tal transformação tenderia, retoricamente ou não, para uma formação mais horizontal, mais elevada e para um processo de qualificação a longo prazo, de formação continuada do trabalhador.
Este conjunto de habilidades e conhecimentos nos situa em um contexto igualmente mais amplo, no qual a formação profissional ultrapassa os limites e necessidades imediatas estabelecidas pelo mercado de trabalho para tornar-se também instrumento de acesso a um conhecimento igualmente amplo, irrestrito, cujas dimensões permitem ao indivíduo estar a par dos princípios básicos subjacentes ao funcionamento dos objetos e fenômenos que o cercam, para raciocinar em consonância com o desenvolvimento científico e tecnológico, podendo melhor exercer sua cidadania, compreender seu meio e nele interferir.
Tais questões nos permitem retornar ao tema central deste trabalho, centrado justamente na explicitação de pontos de vista de atores do sistema de formação profissional com relação a esta última. Para avançarmos nesta direção, nos dirigimos a um grupo de 12 alunos e 9 professores de escolas técnicas no Ceará e no Distrito Federal, que foram convidados a se pronunciar sobre as competências que eles consideram essenciais para delimitar o perfil do egresso de uma escola profissionalizante. Tal processo de coleta de dados, realizado em meados de 1996, foi apoiado pela Técnica do Grupo Nominal, abordagem qualitativa cujas características, desenvolvimento e resultados são apresentados a seguir.
Quando analisamos este conjunto de competências é a de que o aluno da escola profissional quer mais do que deter saberes específicos e coletivos relacionados com o funcionamento de objetos técnicos e tecnológicos. Ele quer também ter uma atitude crítica, perseverante, ética e responsável face à sua profissão e ao meio em que está inserido. Ele quer, e sabe o quanto é importante, ter em si desenvolvido o gosto pela leitura e pelos conhecimentos gerais, pela busca de novos conhecimentos e de outras perspectivas, diferentes das que lhe são apresentadas em sala de aula. Mais do que nunca, e a sociedade tecnológica assim o determina, ele tem que deter saberes que o possibilitem desenvolver uma relação mais individual com o próprio saber, tornando-se então mais criativo, empreendedor, detendo habilidades gerais para abordar, observar, analisar, compreender e resolver problemas. Quando alunos e professores reconhecem que é preciso e urgente formar para a polivalência, para a autonomia, para a multiplicidade, para a criatividade, para a liderança e para a maleabilidade, todos os olhares se fixam sobre estes últimos, mediadores de conhecimentos e diretamente responsáveis pela inserção sócio-profissional dos primeiros.
A questão-chave muda de rumo e de prumo e pergunta-se: Como formar o docente para veicular tais habilidades, tais conhecimentos, tais atitudes? Como favorecer sua própria alfabetização tecnológica e imbuí-lo dos valores e dos códigos emergentes para que a função docente possa responder adequadamente às demandas da sociedade contemporânea, tanto a nível micro quanto a nível macro, tanto a nível específico quanto a nível geral?
Quaisquer que sejam as respostas para tal questão, o fato é que a escola, profissional ou propedêutica, e consequentemente a função social do professor, precisam de uma imediata redefinição, incorrendo na pena de perder o ritmo dos dias, dos indivíduos, dos acontecimentos e da própria sociedade.

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