quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Ovo ou os Políticos?

Sérgio Gaudêncio Portela de Melo

Você está tranquilamente dirigindo rumo ao shopping quando é surpreendido por uma lata vazia de refrigerante atingindo o parabrisa do seu carro. Chega e encontra um estacionamento quase lotado. Dá várias voltas até encontrar uma vaga, mesmo distante. Caminha até a entrada e percebe uma vaga exclusiva para idosos e deficientes físicos ser ocupada por um jovem totalmente saudável. Dirige-se à lotérica para tentar a sorte na Mega-Sena. Espera pacientemente a sua vez numa imensa fila até ser "ultrapassado" por outro sem qualquer explicação.
Infelizmente vivenciamos, no dia-a-dia, cenas e situações como essas. Não se trata de ficção. É a mais pura realidade.
E outras mais como: jogar lixos nas ruas; tentar sempre levar vantagem sobre outros; pedir e (pior) dar atestado médico para justificar a falta ao trabalho estando em perfeitas condições de saúde; tratar de forma diferenciada pacientes, alunos e clientes dependendo da situação financeira ou se o hospital, colégio, faculdade ou instituição é particular ou pública; trabalhar com desídia; agredir uma pessoa que sequer conhece, simplesmente porque ele não torce pelo mesmo time que o seu.
São muitas e muitas situações em que encontramos hábitos e costumes lamentáveis.
Ao lermos os jornais ou assistirmos aos noticiários da TV, somos bombardeados com notícias de corrupção envolvendo agentes públicos. Os políticos são os que mais ilustram as manchetes.
Acostumamo-nos a conviver com a desonestidade sem sequer nos apercebermos de que ela existe em cada gesto ou atitude como as mencionadas acima. Comentar sobre um pacote ou uma cueca cheia de dinheiro como pagamento de benesses e favores administrativos ou políticos, é algo comum nas conversas existentes nos bares e salões. Em muitas ocasiões são comentários vindos dessas mesmas pessoas que deixam de ministrar aulas numa escola pública para não faltar ao compromisso na escola privada. São comentários feitos por médicos que passam dois minutos no atendimento a pacientes em hospitais públicos enquanto destinam uma hora para o atendimento dos pacientes em suas clínicas particulares. São comentários de indignação bradados por pessoas, em perfeito estado físico e mental, que pedem e dão atestados médicos para justificar a falta ao emprego. São comentários enojados de pessoas que furam fila, ocupam vagas destinadas aos idosos e portadores de necessidades especiais e trocam o seu voto por uma centena de tijolos.
A expressão “Rabo Preso” diz-se de quem não pode julgar outrem por também ter culpa no cartório.
A honestidade é um valor integral, inteiro e não divisível. Não conheço ninguém que seja meio-honesto. Não é a quantia subtraída no roubo que vai mensurar o grau de desonestidade. Talvez até o seu motivo e objetivo, mas nunca a sua intensidade.
Dizer que se trata de falta de educação ou que é algo cultural, é muito pouco para explicar a falha de caráter, de integridade moral e de respeito ao próximo e às leis.
Situações assim são protagonizadas, em boa parte, por pessoas que tiveram estrutura familiar e não passaram dificuldades na vida. Não foram vítimas da sociedade. São algozes da sociedade.
Tiveram um lar, mas nunca tiveram vergonha na cara!
Parodiando o célebre questionamento sobre quem primeiro nasceu se foi o ovo ou a galinha, pergunto: são os políticos quem nos devem dar o exemplo ou somos nós quem devemos dar o exemplo aos políticos?