sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pleno emprego distante

Diário de Pernambuco
ROSA FALCÃO
rosafalcao.pe@dabr.com.br
Recife, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Estudo do Ipea admite melhora no mercado de trabalho, mas aponta que situação ainda está longe do ideal

O Brasil está distante do pleno emprego. É o que indica estudo divulgado ontem pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a evolução do mercado de trabalho no país. A pesquisa confirma o recuo das taxas de desemprego nos últimos quatro anos, o aumento da ocupação e a recuperação do valor do salário mínimo. Por outro lado, aponta fatores negativos como a alta informalidade das contratações, os empregos precários e os baixos salários, o que desmonta, em tese, a situação de pleno emprego defendida por alguns economistas. O documento do Ipea reconhece que o crescimento econômico tem levado a criação de novos postos formais de trabalho e a recuperação da renda das famílias. “Houve melhora no mercado de trabalho ao longo dos anos, mas o pleno emprego é uma situação onde todos teriam uma colocação, com remuneração que o empregado considere justa para o seu trabalho”, explica a técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Maria Andreia Lameira Parente. O estudo cita dados do Cadastro Geral de Empregos do Ministério do Trabalho e Emprego que mostram que 80% dos postos formais são remunerados em até dois salários mínimos (R$ 1.244), valor considerado baixo pela técnica do Ipea. Mesmo assim, ela ressalta que o salário mínimo vem crescendo e de forma real, o que melhora o rendimento das famílias, aumenta o consumo e sustenta o crescimento. Outro dado da pesquisa revela que os novos postos de trabalho se concentram na construção civil e serviços. “A indústria vive um momento mais delicado. Tem patinado diante da concorrência”, diz Maria Andreia. O emprego doméstico representa 7% das ocupações nas áreas metropolitanas (dados da PME/ IBGE), o que reforça os índices informalidade e de subocupações com baixos salários.
 No estudo, os pesquisadores questionam a ausência de um índice nacional para medir o desemprego. Tanto a PME/IBGE e a PED/Dieese são retrato das regiões metropolitanas. Como o país tem um mercado de trabalho com diferenças regionais, a taxa média de desemprego varia de 5% das áreas metropolitanas a 10% em outras localidades. “Não temos um número fechado sobre o desemprego no Brasil, e por isso não temos instrumentos para medir o pleno emprego. Estamos num momento bom do mercado de trabalho, mas temos muito o que avançar”. O economista e presidente da consultoria Datamétrica, Alexandre Rands, diverge do estudo do Ipea. Para ele, existem evidências na economia que sinalizam para a situação de taxa natural de emprego ou pleno emprego. Segundo Rands, um dos indicativos é que qualquer redução da taxa de desemprego rebate na elevação da inflação. Ele diz que nos países com economia desenvolvida taxas de desemprego entre 3,5% e 4% caracterizam o pleno emprego.
Fonte : Dieese. Imagem: SILVINO/DP