terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Os Desafios para a Formação de Mão-de-Obra Qualificada em Pernambuco

Sérgio Gaudêncio Portela de Melo


Até o ano de 1817, Pernambuco se constituía numa das maiores províncias territoriais do Brasil com 278.000 quilômetros quadrados.

O Estado abraçava, ao sul, a faixa litorânea que hoje delimita Sergipe e Alagoas e se prolongava até a Paraíba. Tinha a si incorporada boa parte da região do São Francisco. À oeste, estendia-se pelo sertão até a atual divisa entre Bahia, Minas Gerais e Goiás, a menos de 200 Km de Brasília.1

Era uma das mais ricas regiões do país! Aos poucos dividia a força da sua riqueza, antes quase que exclusivamente proveniente da cana-de-açúcar com a cultura do algodão, cada vez mais crescente no sertão da província.

Por se insurgir contra o Império, que cobrara impostos e taxas na ordem de 32% de toda a arrecadação da província para sustentar a corte de D. João VI no Rio de Janeiro, centro político e administrativo do Brasil-Império, perdeu, depois da Revolução de 1817, por retaliação política à proclamação de Pernambuco como república independente, boa parte do seu território, do qual foi subtraída a província de Alagoas da sua jurisdição.

Em 1824, apenas sete anos depois, na proclamação da Confederação do Equador, revolta também de tendência separatista e republicana, que surgiu em virtude do juramento que o imperador D. Pedro I fizera, e não cumprira, em favor da consolidação de uma monarquia constitucional, Pernambuco, mais uma vez, foi vilipendiado, desta feita com a perda de 60% do seu território, o que correspondia à área da antiga Comarca de São Francisco, transferida provisoriamente para Minas Gerais e hoje pertencente à Bahia.

Perdeu, ao todo, 179.689 quilômetros quadrados do seu território ficando com, apenas, 98.311 quilômetros quadrados.

Ao longo da história, porém, Pernambuco não perdeu apenas área territorial. Perdeu, também, a atenção, o prestígio e a riqueza que tinha no passado.

Hoje, quase duzentos anos depois, Pernambuco vem se recuperando e parece estar resgatando a dívida que a história, a ousadia e a coragem lhe impuseram.

Diante de um cenário extremamente otimista, o estado em dezembro de 2011 atingiu o menor percentual de desemprego de sua longa história. Apenas 6% dos pernambucanos encontram-se desempregados. Um número para fazer inveja a qualquer país da Europa.

As indústrias, cada vez mais distribuídas pelo território, demandam, cada vez mais, profissionais qualificados para os postos de trabalho. Fala-se muito em “Apagão de Mão-de-Obra”. Eu diria que não estávamos preparados para uma verdadeira avalanche de empreendimentos em tão pouco tempo. Há 10 anos, nem o mais otimista dos homens poderia imaginar algo parecido.

Correndo contra o tempo, as instituições de educação profissional de Pernambuco espremem suas estruturas para atender às empresas, ao governo e aos pernambucanos. O SENAI-PE, por exemplo, projeta para 2012 um aumento de 56% no número de matrículas comparado com 2011. O mais importante é integrar esforços para contribuir com o desenvolvimento econômico sem esquecer, jamais, de atrelá-lo ao desenvolvimento social.

Porém, pela inesperada velocidade dos fatos, as dificuldades e as responsabilidades dessas instituições formadoras remetem a desafios reais, quais sejam:

  1. Com o considerável aumento do número de alunos é necessário, também, um considerável aumento número de professores para atendê-los. Muitos profissionais docentes foram contratados por empresas que aqui se instalaram. Apesar do Governo do Estado, através da Secretaria do Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo, iniciar um programa para a formação de professores para as áreas de interesse da indústria de petróleo e gás, o Qualipetro, que prevê a formação de 200 docentes, o quadro ainda é preocupante.
  2. A diversidade e o ineditismo, para a nossa região, dos empreendimentos que vêm se instalando em Pernambuco motivam um esforço redobrado para encontrar profissionais que possam ministrar cursos nessas novas áreas industriais como a automotiva, a naval, a de petróleo e gás e a de hemoderivados, entre outras.
  3. A crescente e constante demanda das empresas e prefeituras nas diversas regiões do estado por profissionais qualificados torna-se maior do que a capacidade instalada das instituições formadoras. Apesar de existirem planos de expansão do Instituto Federal de Pernambuco e do Sertão Pernambucano (9 novos campi, além dos 14 hoje existentes), do SENAI (4 novas escolas, além das 10 hoje existentes) e das Escolas Técnicas estaduais (43 novas escolas, além das 14 hoje existentes).
  4. O aumento de escolaridade para os jovens e adultos é essencial para o ingresso no Mundo do Trabalho. As estatísticas mostram que em 1985, 49,27% dos que tinham o nível Fundamental Incompleto ocupavam os postos de trabalho. Em 2010 esse percentual despencou para 19,36%. No mesmo período, os trabalhadores com o Ensino Médio completo saíram de 23,39% para 41,78% na ocupação dos empregos. É bom ressaltar que esses índices acompanham o cenário também do país. Evidencia-se a urgente necessidade de se possibilitar o aumento da escolaridade para viabilizar as oportunidades aos cidadãos que almejam a empregabilidade.
  5. Por fim, porém não menos importante, destaco a questão dos investimentos em qualificação e formação profissional. A aplicação de investimentos públicos agoniza com o excesso de burocracia e de exigências que a legislação submete aos processos de contratação de bens e serviços, convênios e parcerias para a viabilização e para a garantia da qualidade e agilidade ao atendimento às demandas surgidas. No que concerne aos investimentos privados, convivemos ainda com o ceticismo e com a questão cultural das empresas, com poucas exceções, que não priorizam a destinação de recursos para a formação profissional dos seus trabalhadores, tampouco dos pretendentes às novas vagas. A Europa nos traz exemplos muito bem sucedidos de íntimas parcerias entre as instituições de ensino e o mundo produtivo, onde se aprende, dentro das fábricas, o exercício da profissão.

Os desafios, aqui postos, podem ser difíceis, mas precisam ser vencidos! Certamente, a união de esforços de todos os segmentos econômicos, políticos, educacionais e sociais contribuirá para grandes conquistas que garantirão a Pernambuco o resgate do seu posto como estado de vanguarda da história e do desenvolvimento do Brasil.

1 Laurentino Gomes, 1822, p. 225-227

Frases sobre Educação

Fonte: pensador.uol.com.br

"A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida."

John Dewey

"A educação de um povo pode ser julgada, antes de mais nada, pelo comportamento que ele mostra na rua. Onde encontrares falta de educação nas ruas, encontrarás o mesmo nas casas."

Edmondo Amicis

"Educação é aquilo que fica depois que você esquece o que a escola ensinou."

Albert Einstein