quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tecnologia favorece ou atrapalha a interação?

Na maior feira de tecnologia de Educação do planeta, NOVA ESCOLA conferiu um mundo de recursos novos. Mas as novidades da informática estariam roubando o precioso tempo de contato entre aluno e professor?

Paola Gentile (pagentile@abril.com.br)


Todos os anos, professores, gestores e entusiastas da tecnologia em Educação voltam seus olhos para os lançamentos da Bett Show. Realizado num enorme centro de eventos em Londres, na Grã-Bretanha, o evento é uma das maiores feiras mundiais sobre o tema. Estive por lá entre os dias 11 e 14 de janeiro, acompanhando as últimas novidades da tecnologia em sala de aula.

Não há como não voltar deslumbrada com todos os aplicativos, softwares e hardwares desenvolvidos com o objetivo de facilitar a aprendizagem. Jogos em todas as disciplinas fazem a festa das crianças - e também dos professores que acham que esse é o caminho para "motivar" os alunos. Imagens em 3D revelam o corpo humano e dos animais e a estrutura dos demais seres vivos e levam as turmas para um estudo de campo de ecossistemas como o fundo do mar e uma caverna - tudo sem sair da sala de aula.
Mas um ponto polêmico - não colocado abertamente durante as discussões na Bett2012, mas deixado no ar - diz respeito ao fator interação quando a tecnologia invade a sala de aula.

Alguns professores têm usado a tecnologia para se aproximar das turmas, como Emma Chandler, professora de Estudos Sociais da Emerson Park School, em Londres. Ela usa o Twitter para se comunicar com os alunos justamente por ter percebido que era a ferramenta predileta de comunicação entre eles. Manda de três a quatro mensagens por aula, com o plano de aula do dia, questões simples para verificar o conhecimento sobre determinado conteúdo e notícias relacionadas ao tema. "Os mais tímidos passaram a se comunicar mais comigo", afirmou ela, que ainda coordenou um texto coletivo para o jornal da escola cujos trechos eram enviados pela rede social. O trabalho em grupo, portanto, foi intermediado pela ferramenta, com pouco contato direto entre os colegas.

O uso de animações em 3D, em que todas as informações são facilmente acessadas e visualizadas com perfeição e realismo, praticamente prescinde da presença do educador para a compreensão do conteúdo. Estudo realizado em sete países entre outubro de 2010 e maio de 2011, por pesquisadores da Universidade de Londres, comparou o rendimento de duas categorias de estudantes. Os que estavam nas turmas em que o professor usou 3D para ensinar corpo humano melhoraram suas notas em 86% (contra os 52% registrados no grupo de controle, que só usou ferramentas em 2D), apreenderam as informações em menos tempo, lembravam de mais detalhes e davam respostas mais elaboradas em questões abertas. E o papel do professor, nesse caso, foi apenas disponibilizar o acesso à ferramenta e fazer a avaliação.

Steve Bunce, consultor em tecnologia da Educação do Reino Unido, está convicto de que a saída para esse dilema é o educador se tornar um questionador: "Em vez de explicar o conteúdo, ele vai criar as perguntas sobre o mundo real e os problemas globais para serem respondidas pelos alunos, que, por sua vez, com a tecnologia, podem ir sozinhos atrás das informações e trazer as soluções. É assim que se educa cidadãos com autonomia para aprender."

E você, o que acha disso?

Enfrentando a falta de mão-de-obra

Eliezer Pacheco*

A escassez de trabalhadores qualificados ganhou as manchetes dos jornais, foi tema de campanha eleitoral e virou uma espécie de fetiche de especialistas e empresários. Como dizia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os prefeitos hoje em dia vêm a Brasília pedir escola técnica para os seus municípios e não mais uma universidade.
Mas por que a educação profissional entrou na pauta do país? Por que há falta de mão-de-obra em diversos setores da economia? Primeiro porque o Brasil cresce de maneira sustentável, fruto, em grande parte, das políticas implantadas pelo governo Lula. Segundo porque esta modalidade de ensino foi abandonada pela administração tucana, gerando um déficit enorme. Nunca é demais lembrar a Lei 9.649/98, editada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que proibia a criação de novas escolas técnicas federais.
Este processo, no entanto, está sendo revertido, mesmo que em educação os frutos sejam colhidos a médio e longo prazo. No último período, o Ministério da Educação (MEC) tem investido pesadamente na educação profissional e tecnológica.
Já foram entregues à população 214 novas escolas, campus dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia. Hoje, são 401 campus em funcionamento com 300 mil matrículas apenas de cursos técnicos. Em 2002, eram 77 mil. Um crescimento de 389% no período. Outras 201 escolas serão entregues nos próximos quatro anos, em todas unidades da federação.
Além da expansão da rede federal, a maior já feita na história centenária dessa rede, o MEC repassou R$ 1,5 bilhão a 23 estados pelo programa Brasil Profissionalizado. Os recursos estão sendo usados na construção de 176 escolas técnicas estaduais e na reforma ou ampliação de outras 543. Outra importante ação, em andamento, foi o acordo de gratuidade com as entidades que compõe o Sistema S – Senai, Senac, Sesi e Sesc. Pelo acordo, já foram geradas 351 mil matrículas gratuitas nas escolas do Senac e do Senai nos últimos dois anos.
A estas iniciativas, se somarão as ações do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec), lançado no final de abril pela presidenta Dilma e em tramitação em regime de urgência no Congresso. A meta do programa é atender oito milhões de brasileiros nos próximos quatro anos com cursos técnicos e de qualificação profissional, além de bolsas e financiamento estudantil.
O Pronatec prevê que alunos das redes públicas façam, no contraturno escolar, um curso técnico. A medida, além de abrir um leque de oportunidades para o jovem, impactará positivamente o ensino médio público. O projeto ainda beneficiará trabalhadores que recebem o seguro desemprego e beneficiários dos programas de inclusão produtiva, como o Bolsa Família, que também poderão fazer cursos de qualificação profissional.
Outra ação é a mudança do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). A partir do Pronatec, ele proporcionará financiamento para quem desejar fazer curso técnico em uma instituição privada, nos mesmos moldes que ocorre hoje com as faculdades e universidades. O novo Fies ainda terá uma linha de
crédito especial para os empresários que queiram qualificar os trabalhadores de sua própria empresa.
O ensino técnico a distância também será ampliado com o programa. O Escola Técnica Aberta do Brasil será uma alternativa concreta aos municípios de pequeno e médio porte que não contam com uma escola técnica, mas poderão ser um pólo de educação a distância. Estudos comprovam que esta modalidade é tão ou mais eficiente que o ensino presencial.
A educação profissional tem que ser articulada com a escolarização dentro de um projeto de desenvolvimento inclusivo, democrático e soberano do país. O Pronatec é uma união de esforços, onde todos têm que fazer a sua parte. É o enfretamento da falta de mão-de-obra qualificada, mas também a busca pela qualidade da educação.
*Secretário de educação profissional e tecnológica do MEC