quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Vai Deixar SauHADDAD, Ministro!

Sérgio Gaudêncio Portela de Melo

Tive a honra e o privilégio de testemunhar e compartilhar todo o trabalho desenvolvido pelo Ministro da Educação, Fernando Haddad, desde a época em que era Secretário Executivo do então Ministro Tarso Genro.
Ainda Secretário, lembro-me do dia em que, após pedir permissão, entrou na sala em que ocorria uma reunião com os Diretores Gerais de todos os antigos CEFET do país, para apresentar uma idéia que tivera e para saber o que achávamos dela. Tratava-se da criação do PROEJA (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos). A proposta era que os CEFET passassem a oferecer o programa que iria possibilitar que jovens e adultos com mais de 18 anos de baixa renda e que estivessem fora de sala de aula por muito tempo, pudessem retornar às atividades acadêmicas por meio de um curso de Ensino Médio integrado ao curto técnico. Diante de inúmeros desafios já demandados pela sociedade e pelo Ministério, ficamos um tanto reticentes com a proposta. Teríamos condições de assumir mais um programa?
Com um forte poder de convencimento e argumentação que lhe é peculiar, o então Secretário Executivo, deixou a sala com o nosso compromisso de implantarmos o programa nas instituições que dirigíamos.
Após alguns meses, Tarso Genro deixa o MEC para assumir a presidência do PT e acorda com o presidente Lula que Fernando Haddad seria o seu substituto.
Mesmo sem possuir um passado ligado à política partidária, Haddad foi conquistando, pouco a pouco, seu espaço dentro do Governo e dentro da sociedade.
Sempre determinado em mudar a educação do Brasil, adotou o lema de que “todos os níveis e modalidades de ensino são igualmente importantes e os investimentos devem contemplar essa igualdade”.
Desde que assumiu a pasta, Haddad demonstrou ser um empreendedor nato, um visionário de um dinamismo invejável e um articulador irrepreensível. Com essas qualidades, transformou a educação do nosso país com projetos e programas inovadores e desafiadores.
Idealizou e implantou Programas como: o PROEJA; a UaB (Universidade Aberta do Brasil); o e-Tec (Ensino Técnico a Distância); a consolidação do FUNDEB (Fundo Nacional da Educação Básica); o Brasil Profissionalizado; o “Mulheres Mil”; o PROUNI; a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia; o REUNI; o Brasil Alfabetizado; a Rede CertiFIC; o FIES; o PNDL (Programa Nacional de Avaliação de Livros Didáticos); o Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia; o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos; o acordo de gratuidade com o Sistema S.
Existem ainda alguns outros, porém quero me ater a discernir sobre o tão polêmico Novo ENEM.
O Novo ENEM não se resume a um programa de avaliação e seleção unificada para postulantes ao Ensino Superior. Tampouco é apenas um instrumento de avaliação das instituições de Ensino Médio. O que, por si só, já não seria pouco diante da fragilidade e da incoerência do antigo e arcaico sistema.
Trata-se, sim, de uma grande revolução na forma e na metodologia do ensino no Brasil. Não se ensina mais a decorar nem a compor musiquinhas para lembrar das regras e das fórmulas. Busca-se o discernimento, a compreensão e criticidade dos jovens. Segundo a Reitora do IFRS, professora Cláudia Shiedeck, “Treinamos alunos para resolver questões objetivas e não para desenvolver raciocínio lógico.
Trabalhamos com informações, mas não fazemos nossos alunos produzirem conhecimento, o que é muito diferente. O novo Enem traz as duas coisas: a cobrança das informações, essencial, e uma nova formatação. Não se cobrará somente uma fórmula, mas o que esse aluno pode fazer com ela”.
Óbvio que não podemos nos esquecer dos problemas ocorridos na aplicação do exame, porém foram problemas de ordem operacional e não de ordem conceitual. A implantação de um gigantesco programa como o Novo ENEM requer tempo para ajustes. Assim aconteceu com os grandes inventos e descobertas da história da humanidade. Assim acontece em tudo o que fazemos pela primeira vez. Para andar com segurança tivemos que cair por diversas vezes. Além disso, quantos interesses ou interessados torcem e trabalham para o insucesso do Exame? Quantos e quanto deixam de ganhar com ele?
Fernando Haddad foi brilhante na condução do Ministério da Educação. Orgulho-me de ter trabalhado, mesmo distante, ao seu lado. Presenciei avanços que qualquer brasileiro jamais imaginaria. Aprendi com a sua ousadia, inteligência, dinamismo, competência, habilidade e persistência.
E, definitivamente, constatei que só a educação pode transformar vidas, histórias e nações.
Boa sorte ao competente Mercadante, mas, com o perdão da ousadia, a Educação no Brasil sentirá saudade do Ministro Haddad.