quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Ovo ou os Políticos?

Sérgio Gaudêncio Portela de Melo

Você está tranquilamente dirigindo rumo ao shopping quando é surpreendido por uma lata vazia de refrigerante atingindo o parabrisa do seu carro. Chega e encontra um estacionamento quase lotado. Dá várias voltas até encontrar uma vaga, mesmo distante. Caminha até a entrada e percebe uma vaga exclusiva para idosos e deficientes físicos ser ocupada por um jovem totalmente saudável. Dirige-se à lotérica para tentar a sorte na Mega-Sena. Espera pacientemente a sua vez numa imensa fila até ser "ultrapassado" por outro sem qualquer explicação.
Infelizmente vivenciamos, no dia-a-dia, cenas e situações como essas. Não se trata de ficção. É a mais pura realidade.
E outras mais como: jogar lixos nas ruas; tentar sempre levar vantagem sobre outros; pedir e (pior) dar atestado médico para justificar a falta ao trabalho estando em perfeitas condições de saúde; tratar de forma diferenciada pacientes, alunos e clientes dependendo da situação financeira ou se o hospital, colégio, faculdade ou instituição é particular ou pública; trabalhar com desídia; agredir uma pessoa que sequer conhece, simplesmente porque ele não torce pelo mesmo time que o seu.
São muitas e muitas situações em que encontramos hábitos e costumes lamentáveis.
Ao lermos os jornais ou assistirmos aos noticiários da TV, somos bombardeados com notícias de corrupção envolvendo agentes públicos. Os políticos são os que mais ilustram as manchetes.
Acostumamo-nos a conviver com a desonestidade sem sequer nos apercebermos de que ela existe em cada gesto ou atitude como as mencionadas acima. Comentar sobre um pacote ou uma cueca cheia de dinheiro como pagamento de benesses e favores administrativos ou políticos, é algo comum nas conversas existentes nos bares e salões. Em muitas ocasiões são comentários vindos dessas mesmas pessoas que deixam de ministrar aulas numa escola pública para não faltar ao compromisso na escola privada. São comentários feitos por médicos que passam dois minutos no atendimento a pacientes em hospitais públicos enquanto destinam uma hora para o atendimento dos pacientes em suas clínicas particulares. São comentários de indignação bradados por pessoas, em perfeito estado físico e mental, que pedem e dão atestados médicos para justificar a falta ao emprego. São comentários enojados de pessoas que furam fila, ocupam vagas destinadas aos idosos e portadores de necessidades especiais e trocam o seu voto por uma centena de tijolos.
A expressão “Rabo Preso” diz-se de quem não pode julgar outrem por também ter culpa no cartório.
A honestidade é um valor integral, inteiro e não divisível. Não conheço ninguém que seja meio-honesto. Não é a quantia subtraída no roubo que vai mensurar o grau de desonestidade. Talvez até o seu motivo e objetivo, mas nunca a sua intensidade.
Dizer que se trata de falta de educação ou que é algo cultural, é muito pouco para explicar a falha de caráter, de integridade moral e de respeito ao próximo e às leis.
Situações assim são protagonizadas, em boa parte, por pessoas que tiveram estrutura familiar e não passaram dificuldades na vida. Não foram vítimas da sociedade. São algozes da sociedade.
Tiveram um lar, mas nunca tiveram vergonha na cara!
Parodiando o célebre questionamento sobre quem primeiro nasceu se foi o ovo ou a galinha, pergunto: são os políticos quem nos devem dar o exemplo ou somos nós quem devemos dar o exemplo aos políticos?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pleno emprego traz desafio ao setor produtivo

PARADIGMAS Mercado de trabalho mudou. Suape atrai trabalhadores e empresários se desdobram para manter pessoal

Adriana Guarda
adrianaguarda@jc.com.br


Josuel Oliveira não entendia nada sobre sistemas elétricos. Estava acostumado à dinâmica do varejo, onde trabalhava como caixa de supermercado. Foi ouvindo a conversa de seu pai sobre as oportunidades em Suape, que se interessou pelo complexo. Conseguiu uma vaga de ajudante de eletricista da Odebrecht na obra da PetroquímicaSuape. Migrou do comércio para a construção civil, com ganho de salário, benefícios e perspectiva de crescimento profissional.
A história desse jovem de 20 anos, que comemora seu segundo emprego com carteira assinada, é parte do novo cenário do mercado de trabalho na Região Metropolitana do Recife (RMR). Para o empregado o momento é único: recorde de emprego, ganho salarial, melhoria da renda e perspectiva de consumo. Do lado das empresas, o desafio é enfrentar as dores do pleno emprego. Guerra desenfreada por profissionais, investimento em qualificação e alta rotatividade são agora as regras do jogo.
Na teoria econômica, se configura o pleno emprego quando as taxas de desocupação estão baixas e praticamente todas as pessoas em idade produtiva estão trabalhando. Na última Pesquisa Mensal de Emprego (PME) divulgada pelo IBGE, a taxa de desemprego na RMR em novembro de 2011 foi de 5,5%. O percentual é o menor registrado na série histórica realizada desde 2002. O maior índice tinha sido registrado em 2005, quando alcançou 13,9% (veja arte abaixo).
A diminuição do desemprego foi motivada pelo grande número de empreendimentos em implantação no Grande Recife, tendo o Complexo de Suape como o principal indutor dessa transformação. O efeito negativo é a fuga de funcionários para os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho. Os empresários reclamam de ter seus colaboradores “abduzidos” por Suape. O empresário do Extrabom, Rodolfo Borba, diz que a meta da rede de supermercados é reter 15% dos funcionários. “A rotatividade está tão grande que vamos adotar política para garantir a permanência, principalmente nos cargos de gerência e outros mais estratégicos”, diz, resignado.
A construção civil, responsável por içar o PIB e a geração de empregos no Estado, é o setor que promove a maior dança de cadeiras, atraindo profissionais de menor escolaridade dos segmentos de turismo, comércio, serviços e sucroalcooleiro. A canibalização também acontece dentro da própria atividade com fluxo migratório de uma obra para outra. A taxa média anual de aumento da geração de emprego na construção é de 23,7%.
“Se eu não tenho trabalhador aqui, vou buscar no quintal do vizinho. Isso é um movimento normal num cenário de pleno emprego, mas que a gente não percebia aqui porque antes o Grande Recife amargava altas taxas de desemprego”, analisa o sócio-diretor da Ceplan Consultoria, Jorge Jatobá, apontando para uma mudança de paradigma. Os empresários reclamam da falta de comprometimento dos trabalhadores, dizendo que impera a lei do “quem dá mais”.
Empresários do setor de TI se queixam de perder equipes inteiras para as empresas de Suape. Na maioria das vezes são profissionais formados na casa e que vão embora. O técnico em TI Tiago Sena da Silva, de 30 anos, deixou a empresa onde trabalhava como analista há 4 anos para aceitar uma vaga de técnico na obra da PetroquímicaSuape. “Estou num cargo menor, mas meu salário aumentou 40% e tenho benefícios como plano de saúde e participação nos lucros.”
Nem o Senai, formador de mão de obra para o setor produtivo, escapou da canibalização. O diretor regional, Sérgio Gaudêncio, conta que entre 2010 e 2011 a instituição perdeu 44 professores e colaboradores para o mercado. “É difícil concorrer com os grandes empreendimentos de Suape, que oferece melhores salários e benefícios.” Em 2009, o Senai fez uma revisão do plano de cargos e carreiras e da política salarial e vai repetir a iniciativa este ano. “As empresas deveriam evitar atrair gente da nossa equipe, sob pena de comprometer a qualificação de seus próprios funcionários que é feita por nós”, completa. Hoje, o quadro do Senai é de 550 professores.
Aluno formado pelo Senai, Jean Gomes de Souza, de 33 anos, cedeu ao chamamento do mercado. Depois de 15 anos de docência, deixou a instituição para ocupar uma vaga de coordenador técnico no setor de treinamento no Consórcio Conest (responsável por parte da obra da Refinaria Abreu e Lima). “Meu salário quase dobrou e as perspectivas se expandiram. Aqui estou dentro da atividade prática”, comemora, sem remorso pela troca.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Vai Deixar SauHADDAD, Ministro!

Sérgio Gaudêncio Portela de Melo

Tive a honra e o privilégio de testemunhar e compartilhar todo o trabalho desenvolvido pelo Ministro da Educação, Fernando Haddad, desde a época em que era Secretário Executivo do então Ministro Tarso Genro.
Ainda Secretário, lembro-me do dia em que, após pedir permissão, entrou na sala em que ocorria uma reunião com os Diretores Gerais de todos os antigos CEFET do país, para apresentar uma idéia que tivera e para saber o que achávamos dela. Tratava-se da criação do PROEJA (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos). A proposta era que os CEFET passassem a oferecer o programa que iria possibilitar que jovens e adultos com mais de 18 anos de baixa renda e que estivessem fora de sala de aula por muito tempo, pudessem retornar às atividades acadêmicas por meio de um curso de Ensino Médio integrado ao curto técnico. Diante de inúmeros desafios já demandados pela sociedade e pelo Ministério, ficamos um tanto reticentes com a proposta. Teríamos condições de assumir mais um programa?
Com um forte poder de convencimento e argumentação que lhe é peculiar, o então Secretário Executivo, deixou a sala com o nosso compromisso de implantarmos o programa nas instituições que dirigíamos.
Após alguns meses, Tarso Genro deixa o MEC para assumir a presidência do PT e acorda com o presidente Lula que Fernando Haddad seria o seu substituto.
Mesmo sem possuir um passado ligado à política partidária, Haddad foi conquistando, pouco a pouco, seu espaço dentro do Governo e dentro da sociedade.
Sempre determinado em mudar a educação do Brasil, adotou o lema de que “todos os níveis e modalidades de ensino são igualmente importantes e os investimentos devem contemplar essa igualdade”.
Desde que assumiu a pasta, Haddad demonstrou ser um empreendedor nato, um visionário de um dinamismo invejável e um articulador irrepreensível. Com essas qualidades, transformou a educação do nosso país com projetos e programas inovadores e desafiadores.
Idealizou e implantou Programas como: o PROEJA; a UaB (Universidade Aberta do Brasil); o e-Tec (Ensino Técnico a Distância); a consolidação do FUNDEB (Fundo Nacional da Educação Básica); o Brasil Profissionalizado; o “Mulheres Mil”; o PROUNI; a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia; o REUNI; o Brasil Alfabetizado; a Rede CertiFIC; o FIES; o PNDL (Programa Nacional de Avaliação de Livros Didáticos); o Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia; o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos; o acordo de gratuidade com o Sistema S.
Existem ainda alguns outros, porém quero me ater a discernir sobre o tão polêmico Novo ENEM.
O Novo ENEM não se resume a um programa de avaliação e seleção unificada para postulantes ao Ensino Superior. Tampouco é apenas um instrumento de avaliação das instituições de Ensino Médio. O que, por si só, já não seria pouco diante da fragilidade e da incoerência do antigo e arcaico sistema.
Trata-se, sim, de uma grande revolução na forma e na metodologia do ensino no Brasil. Não se ensina mais a decorar nem a compor musiquinhas para lembrar das regras e das fórmulas. Busca-se o discernimento, a compreensão e criticidade dos jovens. Segundo a Reitora do IFRS, professora Cláudia Shiedeck, “Treinamos alunos para resolver questões objetivas e não para desenvolver raciocínio lógico.
Trabalhamos com informações, mas não fazemos nossos alunos produzirem conhecimento, o que é muito diferente. O novo Enem traz as duas coisas: a cobrança das informações, essencial, e uma nova formatação. Não se cobrará somente uma fórmula, mas o que esse aluno pode fazer com ela”.
Óbvio que não podemos nos esquecer dos problemas ocorridos na aplicação do exame, porém foram problemas de ordem operacional e não de ordem conceitual. A implantação de um gigantesco programa como o Novo ENEM requer tempo para ajustes. Assim aconteceu com os grandes inventos e descobertas da história da humanidade. Assim acontece em tudo o que fazemos pela primeira vez. Para andar com segurança tivemos que cair por diversas vezes. Além disso, quantos interesses ou interessados torcem e trabalham para o insucesso do Exame? Quantos e quanto deixam de ganhar com ele?
Fernando Haddad foi brilhante na condução do Ministério da Educação. Orgulho-me de ter trabalhado, mesmo distante, ao seu lado. Presenciei avanços que qualquer brasileiro jamais imaginaria. Aprendi com a sua ousadia, inteligência, dinamismo, competência, habilidade e persistência.
E, definitivamente, constatei que só a educação pode transformar vidas, histórias e nações.
Boa sorte ao competente Mercadante, mas, com o perdão da ousadia, a Educação no Brasil sentirá saudade do Ministro Haddad.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tecnologia favorece ou atrapalha a interação?

Na maior feira de tecnologia de Educação do planeta, NOVA ESCOLA conferiu um mundo de recursos novos. Mas as novidades da informática estariam roubando o precioso tempo de contato entre aluno e professor?

Paola Gentile (pagentile@abril.com.br)


Todos os anos, professores, gestores e entusiastas da tecnologia em Educação voltam seus olhos para os lançamentos da Bett Show. Realizado num enorme centro de eventos em Londres, na Grã-Bretanha, o evento é uma das maiores feiras mundiais sobre o tema. Estive por lá entre os dias 11 e 14 de janeiro, acompanhando as últimas novidades da tecnologia em sala de aula.

Não há como não voltar deslumbrada com todos os aplicativos, softwares e hardwares desenvolvidos com o objetivo de facilitar a aprendizagem. Jogos em todas as disciplinas fazem a festa das crianças - e também dos professores que acham que esse é o caminho para "motivar" os alunos. Imagens em 3D revelam o corpo humano e dos animais e a estrutura dos demais seres vivos e levam as turmas para um estudo de campo de ecossistemas como o fundo do mar e uma caverna - tudo sem sair da sala de aula.
Mas um ponto polêmico - não colocado abertamente durante as discussões na Bett2012, mas deixado no ar - diz respeito ao fator interação quando a tecnologia invade a sala de aula.

Alguns professores têm usado a tecnologia para se aproximar das turmas, como Emma Chandler, professora de Estudos Sociais da Emerson Park School, em Londres. Ela usa o Twitter para se comunicar com os alunos justamente por ter percebido que era a ferramenta predileta de comunicação entre eles. Manda de três a quatro mensagens por aula, com o plano de aula do dia, questões simples para verificar o conhecimento sobre determinado conteúdo e notícias relacionadas ao tema. "Os mais tímidos passaram a se comunicar mais comigo", afirmou ela, que ainda coordenou um texto coletivo para o jornal da escola cujos trechos eram enviados pela rede social. O trabalho em grupo, portanto, foi intermediado pela ferramenta, com pouco contato direto entre os colegas.

O uso de animações em 3D, em que todas as informações são facilmente acessadas e visualizadas com perfeição e realismo, praticamente prescinde da presença do educador para a compreensão do conteúdo. Estudo realizado em sete países entre outubro de 2010 e maio de 2011, por pesquisadores da Universidade de Londres, comparou o rendimento de duas categorias de estudantes. Os que estavam nas turmas em que o professor usou 3D para ensinar corpo humano melhoraram suas notas em 86% (contra os 52% registrados no grupo de controle, que só usou ferramentas em 2D), apreenderam as informações em menos tempo, lembravam de mais detalhes e davam respostas mais elaboradas em questões abertas. E o papel do professor, nesse caso, foi apenas disponibilizar o acesso à ferramenta e fazer a avaliação.

Steve Bunce, consultor em tecnologia da Educação do Reino Unido, está convicto de que a saída para esse dilema é o educador se tornar um questionador: "Em vez de explicar o conteúdo, ele vai criar as perguntas sobre o mundo real e os problemas globais para serem respondidas pelos alunos, que, por sua vez, com a tecnologia, podem ir sozinhos atrás das informações e trazer as soluções. É assim que se educa cidadãos com autonomia para aprender."

E você, o que acha disso?

Enfrentando a falta de mão-de-obra

Eliezer Pacheco*

A escassez de trabalhadores qualificados ganhou as manchetes dos jornais, foi tema de campanha eleitoral e virou uma espécie de fetiche de especialistas e empresários. Como dizia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os prefeitos hoje em dia vêm a Brasília pedir escola técnica para os seus municípios e não mais uma universidade.
Mas por que a educação profissional entrou na pauta do país? Por que há falta de mão-de-obra em diversos setores da economia? Primeiro porque o Brasil cresce de maneira sustentável, fruto, em grande parte, das políticas implantadas pelo governo Lula. Segundo porque esta modalidade de ensino foi abandonada pela administração tucana, gerando um déficit enorme. Nunca é demais lembrar a Lei 9.649/98, editada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que proibia a criação de novas escolas técnicas federais.
Este processo, no entanto, está sendo revertido, mesmo que em educação os frutos sejam colhidos a médio e longo prazo. No último período, o Ministério da Educação (MEC) tem investido pesadamente na educação profissional e tecnológica.
Já foram entregues à população 214 novas escolas, campus dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia. Hoje, são 401 campus em funcionamento com 300 mil matrículas apenas de cursos técnicos. Em 2002, eram 77 mil. Um crescimento de 389% no período. Outras 201 escolas serão entregues nos próximos quatro anos, em todas unidades da federação.
Além da expansão da rede federal, a maior já feita na história centenária dessa rede, o MEC repassou R$ 1,5 bilhão a 23 estados pelo programa Brasil Profissionalizado. Os recursos estão sendo usados na construção de 176 escolas técnicas estaduais e na reforma ou ampliação de outras 543. Outra importante ação, em andamento, foi o acordo de gratuidade com as entidades que compõe o Sistema S – Senai, Senac, Sesi e Sesc. Pelo acordo, já foram geradas 351 mil matrículas gratuitas nas escolas do Senac e do Senai nos últimos dois anos.
A estas iniciativas, se somarão as ações do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec), lançado no final de abril pela presidenta Dilma e em tramitação em regime de urgência no Congresso. A meta do programa é atender oito milhões de brasileiros nos próximos quatro anos com cursos técnicos e de qualificação profissional, além de bolsas e financiamento estudantil.
O Pronatec prevê que alunos das redes públicas façam, no contraturno escolar, um curso técnico. A medida, além de abrir um leque de oportunidades para o jovem, impactará positivamente o ensino médio público. O projeto ainda beneficiará trabalhadores que recebem o seguro desemprego e beneficiários dos programas de inclusão produtiva, como o Bolsa Família, que também poderão fazer cursos de qualificação profissional.
Outra ação é a mudança do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). A partir do Pronatec, ele proporcionará financiamento para quem desejar fazer curso técnico em uma instituição privada, nos mesmos moldes que ocorre hoje com as faculdades e universidades. O novo Fies ainda terá uma linha de
crédito especial para os empresários que queiram qualificar os trabalhadores de sua própria empresa.
O ensino técnico a distância também será ampliado com o programa. O Escola Técnica Aberta do Brasil será uma alternativa concreta aos municípios de pequeno e médio porte que não contam com uma escola técnica, mas poderão ser um pólo de educação a distância. Estudos comprovam que esta modalidade é tão ou mais eficiente que o ensino presencial.
A educação profissional tem que ser articulada com a escolarização dentro de um projeto de desenvolvimento inclusivo, democrático e soberano do país. O Pronatec é uma união de esforços, onde todos têm que fazer a sua parte. É o enfretamento da falta de mão-de-obra qualificada, mas também a busca pela qualidade da educação.
*Secretário de educação profissional e tecnológica do MEC

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Os Desafios para a Formação de Mão-de-Obra Qualificada em Pernambuco

Sérgio Gaudêncio Portela de Melo


Até o ano de 1817, Pernambuco se constituía numa das maiores províncias territoriais do Brasil com 278.000 quilômetros quadrados.

O Estado abraçava, ao sul, a faixa litorânea que hoje delimita Sergipe e Alagoas e se prolongava até a Paraíba. Tinha a si incorporada boa parte da região do São Francisco. À oeste, estendia-se pelo sertão até a atual divisa entre Bahia, Minas Gerais e Goiás, a menos de 200 Km de Brasília.1

Era uma das mais ricas regiões do país! Aos poucos dividia a força da sua riqueza, antes quase que exclusivamente proveniente da cana-de-açúcar com a cultura do algodão, cada vez mais crescente no sertão da província.

Por se insurgir contra o Império, que cobrara impostos e taxas na ordem de 32% de toda a arrecadação da província para sustentar a corte de D. João VI no Rio de Janeiro, centro político e administrativo do Brasil-Império, perdeu, depois da Revolução de 1817, por retaliação política à proclamação de Pernambuco como república independente, boa parte do seu território, do qual foi subtraída a província de Alagoas da sua jurisdição.

Em 1824, apenas sete anos depois, na proclamação da Confederação do Equador, revolta também de tendência separatista e republicana, que surgiu em virtude do juramento que o imperador D. Pedro I fizera, e não cumprira, em favor da consolidação de uma monarquia constitucional, Pernambuco, mais uma vez, foi vilipendiado, desta feita com a perda de 60% do seu território, o que correspondia à área da antiga Comarca de São Francisco, transferida provisoriamente para Minas Gerais e hoje pertencente à Bahia.

Perdeu, ao todo, 179.689 quilômetros quadrados do seu território ficando com, apenas, 98.311 quilômetros quadrados.

Ao longo da história, porém, Pernambuco não perdeu apenas área territorial. Perdeu, também, a atenção, o prestígio e a riqueza que tinha no passado.

Hoje, quase duzentos anos depois, Pernambuco vem se recuperando e parece estar resgatando a dívida que a história, a ousadia e a coragem lhe impuseram.

Diante de um cenário extremamente otimista, o estado em dezembro de 2011 atingiu o menor percentual de desemprego de sua longa história. Apenas 6% dos pernambucanos encontram-se desempregados. Um número para fazer inveja a qualquer país da Europa.

As indústrias, cada vez mais distribuídas pelo território, demandam, cada vez mais, profissionais qualificados para os postos de trabalho. Fala-se muito em “Apagão de Mão-de-Obra”. Eu diria que não estávamos preparados para uma verdadeira avalanche de empreendimentos em tão pouco tempo. Há 10 anos, nem o mais otimista dos homens poderia imaginar algo parecido.

Correndo contra o tempo, as instituições de educação profissional de Pernambuco espremem suas estruturas para atender às empresas, ao governo e aos pernambucanos. O SENAI-PE, por exemplo, projeta para 2012 um aumento de 56% no número de matrículas comparado com 2011. O mais importante é integrar esforços para contribuir com o desenvolvimento econômico sem esquecer, jamais, de atrelá-lo ao desenvolvimento social.

Porém, pela inesperada velocidade dos fatos, as dificuldades e as responsabilidades dessas instituições formadoras remetem a desafios reais, quais sejam:

  1. Com o considerável aumento do número de alunos é necessário, também, um considerável aumento número de professores para atendê-los. Muitos profissionais docentes foram contratados por empresas que aqui se instalaram. Apesar do Governo do Estado, através da Secretaria do Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo, iniciar um programa para a formação de professores para as áreas de interesse da indústria de petróleo e gás, o Qualipetro, que prevê a formação de 200 docentes, o quadro ainda é preocupante.
  2. A diversidade e o ineditismo, para a nossa região, dos empreendimentos que vêm se instalando em Pernambuco motivam um esforço redobrado para encontrar profissionais que possam ministrar cursos nessas novas áreas industriais como a automotiva, a naval, a de petróleo e gás e a de hemoderivados, entre outras.
  3. A crescente e constante demanda das empresas e prefeituras nas diversas regiões do estado por profissionais qualificados torna-se maior do que a capacidade instalada das instituições formadoras. Apesar de existirem planos de expansão do Instituto Federal de Pernambuco e do Sertão Pernambucano (9 novos campi, além dos 14 hoje existentes), do SENAI (4 novas escolas, além das 10 hoje existentes) e das Escolas Técnicas estaduais (43 novas escolas, além das 14 hoje existentes).
  4. O aumento de escolaridade para os jovens e adultos é essencial para o ingresso no Mundo do Trabalho. As estatísticas mostram que em 1985, 49,27% dos que tinham o nível Fundamental Incompleto ocupavam os postos de trabalho. Em 2010 esse percentual despencou para 19,36%. No mesmo período, os trabalhadores com o Ensino Médio completo saíram de 23,39% para 41,78% na ocupação dos empregos. É bom ressaltar que esses índices acompanham o cenário também do país. Evidencia-se a urgente necessidade de se possibilitar o aumento da escolaridade para viabilizar as oportunidades aos cidadãos que almejam a empregabilidade.
  5. Por fim, porém não menos importante, destaco a questão dos investimentos em qualificação e formação profissional. A aplicação de investimentos públicos agoniza com o excesso de burocracia e de exigências que a legislação submete aos processos de contratação de bens e serviços, convênios e parcerias para a viabilização e para a garantia da qualidade e agilidade ao atendimento às demandas surgidas. No que concerne aos investimentos privados, convivemos ainda com o ceticismo e com a questão cultural das empresas, com poucas exceções, que não priorizam a destinação de recursos para a formação profissional dos seus trabalhadores, tampouco dos pretendentes às novas vagas. A Europa nos traz exemplos muito bem sucedidos de íntimas parcerias entre as instituições de ensino e o mundo produtivo, onde se aprende, dentro das fábricas, o exercício da profissão.

Os desafios, aqui postos, podem ser difíceis, mas precisam ser vencidos! Certamente, a união de esforços de todos os segmentos econômicos, políticos, educacionais e sociais contribuirá para grandes conquistas que garantirão a Pernambuco o resgate do seu posto como estado de vanguarda da história e do desenvolvimento do Brasil.

1 Laurentino Gomes, 1822, p. 225-227

Frases sobre Educação

Fonte: pensador.uol.com.br

"A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida."

John Dewey

"A educação de um povo pode ser julgada, antes de mais nada, pelo comportamento que ele mostra na rua. Onde encontrares falta de educação nas ruas, encontrarás o mesmo nas casas."

Edmondo Amicis

"Educação é aquilo que fica depois que você esquece o que a escola ensinou."

Albert Einstein

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A “Velhinha de Taubaté” em Pernambuco

Sérgio Gaudêncio Portela de Melo

Voltemos dez anos de nossas vidas e avaliemos as expectativas que tínhamos a respeito do desenvolvimento econômico e social do Brasil e, em especial, de Pernambuco.
Diriam os mais conservadores e pessimistas que nossos filhos encontrariam um cenário lúgubre e decadente. Um cenário de miséria, violência e desemprego.
Os mais otimistas, “as Velhinhas de Taubaté” (em referência à personagem sempre sonhadora por um país melhor criada pelo mestre Luiz Fernando Veríssimo nos idos da ditadura militar), diriam que o Brasil seria o país do futuro que tudo mudaria para melhor.
Pernambuco, em 2010, apresentou um crescimento do PIB de 15,78%, mais que o dobro da média de crescimento nacional do mesmo ano, que ficou em 7,5%. Ao mesmo tempo, a taxa média de desemprego na Região Metropolitana do Recife se manteve em declínio nesses seis últimos anos, passando de 19,2%, em 2009, para 16,2%, em 2010. Os indicadores educacionais apontam um quadro de melhoras no IDEB e uma redução na taxa de analfabetismo. Os índices de violência caem a cada mês, apesar de, ainda, assustadores.
Enfim, o que hoje presenciamos muitos não poderiam prever há dez anos.
Esse novo cenário vem sendo gerado pelos constantes investimentos, principalmente (mas não somente), em Suape. Obras gigantescas como a Transnordestina e a transposição do Rio São Francisco completam a monumental paisagem do nosso futuro.
A cada dia novas indústrias vêm aqui se hospedar. Geram empregos, melhoram a qualidade de vida da nossa população reescrevem a nossa história.
Fala-se muito na falta de mão de obra qualificada para atender às imensas demandas vindas do grande número de empreendimentos industriais que em nosso estado se instalam.
A escassez dessa mão de obra não é fruto da insuficiência quantitativa ou de ações qualitativas das instituições de formação profissional no estado. É conseqüência da velocidade com que novos empreendimentos aqui chegam e da diversidade dos perfis profissionais necessários às indústrias com características inéditas para Pernambuco (Refinaria, estaleiros e montadoras de automóveis).
O SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o IFPE (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco) trazem, nas suas longas histórias de serviços prestados à sociedade, capítulos de inquestionável sucesso. Entretanto, tudo aconteceu e vem acontecendo num ímpeto imprevisível e inesperado. Apesar disso, o crescimento e o empenho dessas instituições são notáveis. A elas unem-se as 60 escolas técnicas estaduais previstas para até 2014, entre as quais 16 já se encontram em funcionamento. A visionária atuação do Governo do Estado, além da construção de novas escolas técnicas, consolida-se com a criação da Secretaria do Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo, cuja principal missão é estruturar e organizar todo o processo de oferta x demanda de capacitação, qualificação e formação profissional no estado.
O Governo Federal anunciou a construção de mais 7 novos campi do IFPE.
O SENAI-PE prevê investimentos de expansão na ordem de R$ 100 milhões com a construção de, pelo menos, três novas escolas e ampliação de outras três.
O PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego), criado em Lei sancionada na semana passada pela Presidenta Dilma Roussef, prevê a capacitação de 8 milhões de pessoas no Brasil até 2014. O programa garante o acesso gratuito (financiado pelo Governo Federal) às escolas da rede federal, do SENAI e do SENAC com o atendimento aos alunos do ensino médio (até o segundo ano) da escolas estaduais e ao público do Bolsa Família e beneficiários do Seguro Desemprego.
De 2011
Foi-se, portanto, o tempo do isolamento e da acomodação.
Todos devemos estar unidos para prover o nosso estado das condições necessárias ao seu desenvolvimento sustentável.
Não há mais volta!!
Em breve ocuparemos novamente o espaço que infelizmente perdemos no pódio dos mais importantes e desenvolvidos estados no nosso país (que também se impõe perante o mundo).
Deixemos renascer a “Velhinha de Taubaté” que existe em nós, afinal foi ela que nos permitiu acreditar que um dia conseguiríamos.