sexta-feira, 29 de junho de 2007

Desafios da Televisão e do Vídeo à Escola

José Manuel Moran

O professor Moran acredita que os educadores estão deslumbrados com o computador e a internet e deixando de lado a televisão e o vídeo. A televisão, o cinema e o vídeo desempenham um papel educacional relevante. Mostram-nos modelos de comportamento, ensinam-nos linguagens coloquiais e multimídia e privilegiam alguns valores em detrimento de outros.
A informação e a forma de ver o mundo no Brasil provêm fundamentalmente da televisão. A TV alimenta e atualiza o universo sensorial, afetivo e ético que crianças e jovens e boa parte dos adultos levam para a sala de aula.
A TV fala da vida, do presente, dos problemas afetivos. A escola é muito distante e intelectualizada. Nós, como educadores e telespectadores, sentimos na pele a esquizofrenia das visões contraditórias de mundo e das narrativas tão diferentes dos meios de comunicação e da escola.
Os meios de comunicação hiper-exploram nossas emoções, fantasias, desejos, medos e aperfeiçoam continuamente estratégias e fórmulas de sedução e de dependência.
Os educadores costumam contrapor a diferença de funções e da missão da televisão e da escola. A TV entretém e a escola educa. Nós, educadores, fazemos pequenas adaptações, damos um verniz de modernidade nas nossas aulas, mas continuamos prendendo os alunos pela força e mantemos confinados em espaços barulhentos, sufocantes e fazendo atividades pouco atraentes.
Como a televisão se comunica?
Os meios de comunicação desenvolvem formas sofisticadas multidimensionais de comunicação sensorial, emocional e racional. A TV fala primeiro do “sentimento”: o que você sentiu, não o que conheceu, as idéias estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e afetiva.
A televisão e o vídeo partem do concreto, do visível, do imediato, próximo, que tocam todos os sentidos. A eficácia de comunicação dos meios eletrônicos, em particular da televisão, se deve também à capacidade de articulação, de superposição e de combinação de linguagens diferentes. Num olhar distante tudo aprece igual, tudo se repete, tudo se copia. Ao olhar mais de perto, por trás de fórmula conhecida, há variantes adaptadoras e diferenciadoras.
A força da linguagem audiovisual está em que consegue dizer muito mais do que captamos, encontra dentro de nós uma repercussão em imagens básicas, centrais, simbólicas, arquetípicas com as quais nos identificamos ou que se relacionam conosco de alguma forma. Televisão e vídeo combinam a dimensão espacial com a sinestésica, ritmos rápidos e lentos, narrativas de impacto e de relaxamento. Combinam a comunicação sensorial com a audiovisual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão. A televisão estabelece uma conexão aparentemente lógica entre mostrar e demonstrar. Uma situação isolada converte-se em situação paradigmática, padrão universal.
Estratégias de utilização da TV e do vídeo
A televisão e a internet não são somente tecnologias de apoio às aulas, são mídias, meios de comunicação. Podemos incentivar os alunos a filmarem, apresentarem pesquisas em vídeo, em CD, em páginas na web. Pode-se analisar essas produções e inserir uma discussão teórica.
A escola precisa observar o que está acontecendo nos meios de comunicação, discutir com os alunos e perceber, conjuntamente, os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre cada assunto.
A televisão, o cinema, a internet e demais tecnologias nos auxiliam a educar com desafios. O presencial se torna mais virtual e a educação a distância se torna mais presencial. Os modelos de educação tradicional não nos servem mais. Podemos começar por formas de utilização das novas tecnologias mais simples e assumindo atividades mais complexas. Vale a pena pesquisar novos caminhos de integração do humano e do tecnológico, do sensorial, emocional, racional e ético, do presencial e do virtual; de integração da escola, do trabalho e da vida.

A Sociedade Conectada: Caminhos para a Formação de Professores

Christina Marília Teixeira Silva

A autora Christina Marília Teixeira Silva (2000) percebe que as novas tecnologias vêm causando profundas alterações na sociedade. Estas tecnologias afetam valores, identidades, formas de trabalho, formas de pensar e de sentir. A educação se move tão lentamente que a distância entre a tecnologia e o processo educativo se torna cada vez mais ampla. Apropriamo-nos dos processos desenvolvendo habilidades que permitam o acesso e o controle das tecnologias e de seus efeitos. Nesse sentido, a necessidade de se formar professores sintonizados com a sociedade tecnológica. Introduzir computadores, ferramentas de telecomunicações ou qualquer outro recurso tecnológico nas experiências de aprendizagem dos alunos não resulta automaticamente na melhoria da aprendizagem.
Buscando caminhos para a formação de professores
É preciso que o investimento, no que diz respeito à presença do computador no ensino, seja diferente daquele realizado pelas escolas norte-americanas: 90% para equipamentos e 10% destinado à formação de professores. Às vezes, o professor é treinado para usar uma nova tecnologia, mas sua atuação não se modifica em sala de aula. Deve-se propiciar meios para que haja uma mudança na forma do professor “ver a sua prática, entender o processo de ensino-aprendizagem e assumir uma nova postura como educador”. A opção deve ser pelo ensino através do computador e não do ensino sobre computação.
A questão da formação de professores é complexa e, definindo-se o modelo desejado, deve-se levar em conta, questões relacionadas aos possíveis papéis do professor no processo de ensino-aprendizagem. É fundamental que sejam realizadas alterações profundas nesse processo e que os professores sejam capazes de estabelecer o quê, como, por quê, para quê, a quem e para quem servem as novas tecnologias. Precisa-se de ambientes que funcionem como verdadeiras salas de aula virtuais, não repetindo o modelo tradicional, mas incentivando o trabalho independente quanto o não repetindo o modelo tradicional, mas incentivando tanto o trabalho independente quanto o cooperativo.
Programas disponibilizados na rede também se constituem em material didático, mas é necessário atender a requisitos como:
1. Desenvolver o material para o usuário e não para a tecnologia
2. Escolher os tipos de mídia baseado nos objetivos de aprendizagem
3. Fornecer ao usuário grande quantidade de interatividade
4. Planejar para que o material se adapte a diferentes níveis de habilidade
5. Atender a uma variedade de estilos de aprendizagem: pessoas diferentes aprendem de formas diferentes
6. Preferir o modo não linear. A web constrói conhecimento de forma não linear.
7. Respeitar o aluno: evitar conteúdos ou feedbacks não significativos, nem motivadores
8. Testar o projeto da interface em usuários reais:materiais didáticos com um projeto inadequado desmotivam o usuário.
Alguns autores sugerem estratégias com uso de tecnologias que podem ser consideradas muito sofisticadas para a realidade educacional brasileira. As estratégias de formação de professores devem usar “agentes inteligentes”, como a Tv a cabo conectada diretamente à internet.
É necessário que o professor tenha a oportunidade de capacitar-se naquilo que mais lhe interessa e que é adequado às suas necessidades profissionais. Um outro exemplo consiste na criação de uma rede sem fio, projetada para usar todos os benefícios da tecnologia portátil. Os profissionais envolvidos no processo de formação devem possuir um computador notebook, assim os “alunos” podem se conectar a bate-papos on-line, esclarecer dúvidas e trocar opiniões.
Oliveria(1997) diz que a formação deve ser eficaz, as pessoas responsáveis por ela precisam estar preparadas tanto nos aspectos ligados à informática quanto aos aspectos pedagógicos da utilização da tecnologia em ambientes de aprendizagem. A formação deve ser contínua, pois os professores necessitam acompanhar a velocidade com que se alteram programas e equipamentos.
Devemos refletir com maior cuidado para saber quando convém atualizar determinada tecnologia, por que fazê-lo, quais sãos os custos e o impacto educativo de tal mudança. Cada escola deve ter um projeto tecnológico claro, flexível e atualizável.
Implementando redes de computadores na educação: a necessidade de um novo paradigma
Há resultados na utilização das redes na educação, bem como alguns problemas. Destacamos os seguintes: o professor deve ser um facilitador; os alunos tendem a se dispersar na exploração da informação; a motivação dos alunos é maior pela quantidade de informações disponíveis; desenvolve maior habilidade para se fazer pesquisa; novas formas de comunicação estão surgindo e a ampliação da cooperação, da pesquisa em grupo de troca de resultados, são ampliadas com o uso das redes.
Diante da tecnologia, há duas atitudes manifestas: a dos tecnofílicos e a dos tecnofóbicos, a dos tecnootimistas e a dos tecnopssimistas. Podemos ignorá-la, e ela nos atropela, ou a assimilamos e a integramos.

Gestão Inovadora da Escola com Tecnologias

José Manuel Moran

Para Moran (2003), as condições de gerenciamento de muitas das escolas públicas são precárias: infra-estrutura deficiente, professores mal preparados, classes barulhentas. Difícil falar em gestão inovadora nessas condições. No entanto, a competência de um diretor de escola pode suprir boa parte das deficiências, por exemplo, sua capacidade de liderar, de motivar, de encontrar soluções para driblar o orçamento precário.
Escolas com problemas sérios encontramos professores que conseguem comunicar-se de forma significativa com seus alunos e ajudá-los a aprender. Outros gestores transformam as limitações organizacionais e contribuem para transformar a escola em espaço criador, em uma comunidade de aprendizagem utilizando as tecnologias possíveis.
Quando se fala em tecnologias na gestão escolar, pensa-se em computadores, vídeos, softwares e internet. Tecnologias são os meios, os apoios, as ferramentas que utilizamos para que os alunos aprendam. A forma como os organizamos em grupos, em salas, em outros espaços isso é também tecnologia.
Quando uma pessoa pobre diz que não tem tecnologias é, parcialmente, correto, pois estamos sempre utilizando inúmeras tecnologias da informação e de comunicação, na parte das vezes, sofisticadas. Na escola combinamos tecnologias presenciais e virtuais.
Programas integrados de gestão administrativo-pedagógica
As tecnologias são apoios indispensáveis ao gerenciamento das atividades administrativas e pedagógicas. O computador começou a ser utilizado antes na secretaria do que na sala de aula. Não se pode separar o administrativo do pedagógico: ambos são necessários.
As redes administrativas e pedagógica, nesta primeira etapa, estiveram separadas e ainda continuam funcionando em paralelo em muitas escolas. Existem no mercado programas de gestão tecnológica que têm como princípio integrar todas as informações que dizem respeito à escola.
Num segundo momento, a internet se conecta com a internet, abre-se o mundo através da web, que tem como finalidade imediata a divulgação da escola, marketing, e como finalidade principal facilitar a comunicação entre todos os participantes da comunidade escolar.
Gestão Administrativa
Os principais colégios e universidades do Brasil utilizam programas integrados de gestão. Diminuem a circulação de papéis, formulários e ofícios, bem comuns nas escolas públicas. As inscrições dos alunos é via computador. Cadastros atualizados, emissão de boletos e outras atividades, freqüência de alunos e professores, tudo pelo computador. Há outra área importante de informatização: o controle financeiro. O programa integra todas as despesas e permite fazer projeções sobre o tempo que levará para equilibrar receita e despesa.
Gestão pedagógica
O administrativo está a serviço do pedagógico e ambos precisam caminhar integrados. Há grandes avanços na qualidade das informações disponíveis on-line para a comunidade escolar e para o público em geral. A internet é um espaço virtual de comunicação e divulgação. Cada escola deve aproveitá-la para mostrar a sua cara à sociedade: projetos, ações, filosofia pedagógica.
Há um segundo nível de comunicação do colégio pela internet: com a comunidade local (família dos alunos, associações, empresas, igrejas...). No terceiro nível, a página da escola deve focalizar os professores, os alunos e os funcionários, ou seja, a comunidade de ensino-aprendizagem. São importantes os acessos à Biblioteca Virtual com acervos digitalizados, materiais de professores, divulgação da produção dos alunos, chats, listas de discussão.
Pedagogia da gestão pedagógica
Cada escola tem uma situação concreta, que interfere em um processo de gestão com tecnologias. Há avanços na informatização das escolas, mas a demanda por novos laboratórios, por conexões mais rápidas, por novos programas é incessante e deixa também amedrontado o gestor, pois não tem a certeza se o investimento vale a pena.
O segundo passo na gestão tecnológica é o domínio do técnico. Se o professor só toca no computador uma vez por semana vai demorar a dominá-lo.
O terceiro passo é o domínio pedagógico e gerencial. O que podemos fazer com essas tecnologias para facilitar o processo de aprendizagem? Alunos, pais e professores acessem mais rapidamente as informações.
O quarto passo é o das soluções inovadoras que seriam impossíveis sem essas novas tecnologias. A integração da gestão administrativa e pedagógica se faz de forma mais ampla com os computadores conectados em rede.

O Professor diante das Novas Tecnologias

Vani Moreira Kenski

A autora Vani Moreira Kenski(1998) diz que necessitamos realizar reflexões mais aprofundadas sobre novas práticas docentes e identificar as fragilidades técnicas e operacionais de nossos ambientes de trabalho. Considerar mais realisticamente tudo o que podemos fazer ou transformar por meio de nossa interação e a de nossos alunos.
Segundo a autora, a partir do domínio do conhecimento tecnológico básico, e de sua aplicação às atividades de ensino, novos desafios e preocupações nos assaltam. Nossos problemas educacionais gerais são bem conhecidos e de difícil solução. Somando-se a eles, na perspectiva da educação tecnológica, alguns novos impasses.
O governo e o setor privado têm investido na informatização das escolas, no treinamento rápido de professores, mas o essencial ainda precisar ser feito. Como:
Questões ligadas à organização da educação
A utilização das novas tecnologias afeta todos os campos educacionais. Elas encaminham as instituições para a adoção de uma “cultura informática educacional”, que exige uma reestruturação. As instituições escolares de todos os níveis não se vêem mais como sistemas isolados, refratários a qualquer vínculo com as demais instituições sociais.
É necessário que cada instituição de ensino oriente seu projeto pedagógico definindo a relevância a ser dada ao uso das novas tecnologias, que envolve o ensino, a pesquisa e a capacitação de seus professores, além da inclusão de todas as atribuições administrativas.
Essa “internacionalização” das possibilidades educacionais altera as atuais formas de estruturação e de definição formal dos sistemas de ensino e nos coloca diante de novas questões como a definição de esferas de influências e de articulações entre instituições de diferentes estados, regiões ou países.
A internacionalização da educação deixa de ser acompanhada da valorização dos aspectos que caracterizam o caráter regional do ensino e do fortalecimento da cidadania, solidariedade e do respeito entre os povos.
Uma outra questão diz respeito às possibilidades de ampliação da atuação do sistema de ensino para o oferecimento do ensino permanente. Garantir aos alunos a liberdade de entrar a e sair quando quiserem.

A formação do professor em um mundo em rede
A “cultura informática” estabelece novas exigências: a percepção de que a atualização permanente é condição fundamental para o bom exercício da docência. Programas de formação inicial e continuada e múltiplas possibilidades de atualização por meio de aprendizagem a distância são pontos importantes da ação docente. É preciso que o professor saiba utilizar adequadamente, no ensino, novas mídias, para poder melhor explorar suas especificidades e garantir o alcance dos objetivos do ensino oferecido. Ele deve auxiliar seus alunos a analisarem criticamente as situações complexas e inesperadas informadas pelas mídias. O professor, num mundo em rede, é um incansável pesquisador. As mudanças pessoais, no entanto, nada significarão se não vierem acompanhadas de uma significativa mudança das condições de vida e de trabalho dos docentes. Uma política de pessoal que reconheça e valorize suas competências e sua importância, o oferecimento dos cursos de aperfeiçoamento e de atualização, além de uma formação inicial de qualidade, projeto de carreira consistente e melhoria de nas condições de trabalho e vida.